Jeito perfeccionista, exigente, mas de muito bom caráter. Este era Fernando Vilar, um professor, um chefe e, acima de tudo, um amigo. Conheci o Fernando em 2009, na Universidade Metodista de São Paulo, onde eu cursei Jornalismo. No ano seguinte, iniciei o meu primeiro estágio e primeiro emprego, me tornei repórter do Telejornal da Metodista, um telejornal da própria faculdade, que era exibido no canal NET Cidade ABC. Este telejornal, por sinal, era comandado por ele, Fernando Vilar.
No dia 27 de janeiro de 2010, comecei a minha trajetória no Jornalismo. Ainda era estudante, cursava o terceiro ano da faculdade. A partir daquela data, tornou-se diária a minha convivência com o Fernando. Passava as tardes com ele, entrava às 14 horas e saía somente às 20 horas. A princípio, pouco imaginava como seria aquele estágio, confesso que nunca havia pensado em trabalhar em televisão.
Aos poucos, Fernando Vilar foi me mostrando o que era trabalhar em televisão, ainda que com uma estrutura muito abaixo do que eu poderia encontrar no mercado. Comecei fazendo reportagens, gostava de fazer matérias que envolvia problemas da cidade. Sempre com dicas e alguns ‘puxões de orelha’, Fernando começou a me mostrar que sabia muito do assunto e fez eu me apaixonar a cada dia mais pelo trabalho televisivo.
Na época, o Telejornal da Metodista era composto por mim e por duas grandes amigas, Emilia Rebelo e Suellen Gonçalves. Não sei por qual motivo, mas Fernando me escolheu para ser o seu “braço direito” na edição dos telejornais. Lembro perfeitamente quando ele me puxou e disse: “Senta aqui na cadeira porque eu vou te ensinar a editar”. Dito e feito.
Fernando realmente me ensinou a editar, me colocava naquela cadeira todos os dias e ficava em cima para ver como eu estava fazendo a edição. Me dava toques, me corrigia, e sempre buscava a perfeição. Fernando associava tudo o que acontecia ao futebol, fato que fez a gente se entender ainda mais. Fernando dizia que era o meu “treinador” na edição, no qual ficaria no meu ouvido “gritando” coisas para eu fazer.
Alguns dias depois, eu já estava editando muito bem. Fernando já não ficava mais do meu lado, destinou a mim a edição do telejornal e fez eu sentir que a confiança dele no meu trabalho havia crescido. De fato, cresceu. E eu confirmaria isso alguns dias depois.
Em agosto de 2010, tomei uma decisão que surpreendeu Fernando. Pedi a ele para deixar o estágio, pois pretendia tentar algo melhor em algum outro lugar. Ele não criou barreiras e assim o fiz, saí do estágio. Três dias depois, fui informado que ele gostaria de conversar comigo.
Fui até a faculdade, liguei para ele e o esperei. Fernando demorou alguns minutos, mas chegou. Acredito que ele estava pensando que eu já estava com outro emprego em vista, fato que não era verdade. Apenas havia saído do estágio, mas sem outro lugar para ir. Fernando então pediu para que eu voltasse ao telejornal. Conversamos durante alguns minutos e eu fiquei de decidir se eu voltaria ou não ao trabalho.
Terminamos a conversa por aí, virei e fui embora. Neste mesmo instante, ouvi o Fernando me chamando. Voltei e ele me disse: “Agora você decide se quer continuar sendo o meu camisa 9”. Mais uma vez, Fernando associou algo ao futebol. O camisa 9, como se sabe, costuma ser o artilheiro das equipes, ou seja, uma peça muito importante. Naquele momento, percebi o quanto Fernando considerava o meu trabalho e, na mesma hora, eu decidi que voltaria.
Daquele dia em diante, vivi grandes momentos de parceria com ele. Falávamos sobre o “nosso Palmeiras”, comentávamos sobre tudo o que acontecia com o nosso amado time. Fernando era contestado por alguns alunos, mas eu sempre tive um enorme carinho e respeito por ele. Tanto que o considero como um dos melhores professores que tive em minha vida.
O meu contrato de estágio com a Metodista tinha vigência até o dia 31 de dezembro de 2010, e foi até aí que eu permaneci no estágio. No formato deste contrato, eu era obrigado a deixar o estágio e assim foi feito. Deixei o telejornal e saí a procura de outra coisa. Meses depois, soube que o Telejornal da Metodista havia acabado.
Sempre soube o quão importante era aquele telejornal para o Fernando, afinal, ele o comandava há mais de 12 anos. Fernando dava a vida por aquele telejornal, editava segundo por segundo, sempre buscava a perfeição. Hoje, posso dizer que devo tudo o que sei sobre edição de vídeos a este homem.
Fernando demonstrava um carinho por mim. Com o jeito dele, Fernando às vezes dava uns tapinhas em minha cabeça, mas sempre com muito humor. Fernando me chamava de “Chambinha” e, hora ou outra, me falava: ‘Já pensou, daqui cinco anos vou ver o Thiago Kimori na TV”. Infelizmente, não tivemos tempo para isso. Fernando se foi neste domingo, dia 08 de setembro de 2013.
Quase três anos depois de eu ter deixado o Telejornal da Metodista, hoje eu trabalho como Assessor de Comunicação do Palmeiras, time pelo qual Fernando e eu sempre torcemos. Anos depois, Fernando ainda está presente no meu dia a dia. Atualmente, faço edições de vídeos no Palmeiras e, mais uma vez, graças aos ensinamentos do meu professor/chefe/amigo Fernando Vilar. Só tenho a agradecer a este homem que me ajudou tanto. A cada edição, sempre lembrarei dele.
Fernando, tenho em minha memória momentos muito bons que vivi com você. Com você, iniciei o meu trajeto no Jornalismo e tive a imensa sorte de ser aconselhado por alguém com um caráter tão bom. Hoje, trabalhando no clube que amamos tanto, exerço todos os ensinamentos que você me passou.
Posso dizer, com toda certeza, que você foi essencial para a minha vida profissional. Sei que você está em um lugar melhor, mesmo achando que você foi cedo demais. Fica uma grande tristeza em meu coração por você ter nos deixado, mas permanece a gigante alegria por um dia ter te conhecido.
Fico na obrigação de te dizer um “até logo”, mas sabendo que um dia ainda nos reencontraremos. E, a partir de hoje, dedicarei todas as minhas edições de vídeos ao meu primeiro e eterno “treinador”.
Obrigado por tudo, Fernando Vilar!
THIAGO KIMORI